sexta-feira, 9 de outubro de 2009

e o tempo passa


Completaram 26 anos de casados. Comemoraram sozinhos jantando numa churrascaria. A mesma churrascaria que frequentam há alguns anos. Vão lá sozinhos ou com a família e com os amigos, para comemorarem qualquer data ou simplismente para não almoçar em casa num domingo qualquer. Os casais criam as suas manias, um apelido carinhoso com o qual se tratam no dia a dia, a maneira de chamar o outro na frente de visitas, a entonação que indica a seriedade do assunto, ou a urgência do pedido. O olhar que diz tudo. E a certeza de não precisar de palavras... Tanto tempo de convivência, pode trazer também os "calos" na maneira de falar. Talvez esses calos deixem menos delicado o tato. Como mãos calejadas que nem sentem mais a suavidade das coisas que toca. Assim também pode acontecer com a convivência. Perde-se o trato doce, a meiguisse se veste de trapos, se esconde e torna-se rude... É o tempo que trama suas artes vai transformando as sutilezas sem que a gente perceba. Mas, isso são coisas da vida, e a vida muda, e está em nós a capacidade de perceber quando as mudanças nos dominam, se não as dominarmos, nós mesmos. Uma vida a dois, feita de companheirismo e partilha, onde cada um proporciona ao outro a alegria de um sonho realizado. Pequenas delicadezas rotineiras e nem por isso cansadas. Grandes provas de amor, num gesto simples, numa palavra dita bem baixinho... numa flor, ou num espinho... porque aquilo que nos parece uma fisgada, pode ser uma defesa, um aviso, um alerta. O tempo não nos ensina como viver feliz para sempre... ele exige que nós aprendamos sozinhos.

4 comentários:

  1. Que luxo! Acho mó difícil ficar 26 horas ao lado de alguém, quem dirá 26 anos... Mas acho isto muito bonito.

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  2. Eu estou há quase 18 anos e às vezes acho que, tanto ele como eu somos verdadeiros heróis por um aturar o outro. :) Eu, por querer tudo imediatamente já, e ele na maior calma do mundo, tem tempo... )

    beijos

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  3. Quando um não quer, dois não brigam. Mas também quando um não quer, dois não amam!

    Para conviver tanto tempo (26 anos! Parabéns!) com outra pessoa, é preciso muita coragem e vontade. Para fugir da mesmice e da monotonia, é preciso se reinventar a cada dia, ambos!

    Ainda hoje ouvi um especialista em móveis falar da característica de certas cadeiras e dali filosofar. Ele dizia: "Duro com duro, não dá bom muro, não tem futuro". Mostrou-me uma cadeira, sentou nela e perguntou: "ela cedeu?". "Sim, um pouco", respondi. "Pois, cadeiras que são coladas e rígidas, não cedem ao peso, e não duram muito. Cadeira com parafusos cedem, estas resistem mais." E concluiu: "Como nos casamentos, se ninguém cede, não dura!"

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  4. Que lindo post, amiga!! Faz a gente pensar. :)
    Viver e conviver é um exercício.

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