sexta-feira, 17 de junho de 2011

Queria falar de coisas mais leves...

Mas hoje, não consigo...
Havia um tempo em que criança mal-educada era expulsa da escola... Havia um tempo em que crianças eram educadas em casa, os pais ensinavam, davam limites e davam exemplo, e assim quando essas crianças viravam alunos (que significa sem luz), os professores tinha a incunbência de lhes dar a luz da ciência, das artes, das línguas, ou seja o saber. A sabedoria, vinha com o tempo, da união da educação com a vivência...

Hoje me parece que as coisas andam na contra-mão da lógica...

Estou a procura de uma escola para minha filha. Uma boa escola não tenho condições da pagar, como a que ela estudava antes... uma escola pública, somente em sonho eu teria coragem... Mas não estava sonhando quando a coloquei no início do ano, em uma escola pública... Eu acreditava que seria bom para o desenvolvimento dela se aprendesse que o mundo é feito de diferenças. Diferentes pontos de vista, diferentes razões para ser diferente, idéias diferentes, comportamento, idem... Mas não imaginei que seria ela "a diferente"... e que eu poderia ensiná-la a aceitar as diferenças, mas não poderia ensinar os outros a aceitá-la.

A Bea, pra mim, é uma menina normal... Ela é brincalhona, ri a vontade e por qualquer coisa, gosta de filme, de livros, de música, de tintas como eu gosto, como nós gostamos aqui em casa. Mas outro dia, descobri que para algumas pessoas ela não é normal. Um professor perguntou se ela não tinha amigos em sala de aula, porque ela não conversa em sala de aula... e ela respondeu, que ela não conversa, porque em sala de aula não é lugar pra conversar... e aí, caiu a ficha, que criança é essa que não conversa, que não faz bagunça, que não grita, não briga, não bate, não quebra?... Porque o normal nas escolas é justamente o contrário... Uma pedagoga, analizando as notas dela, imaginou que ela estava na série errada, cogitaram passá-la para a próxima série... e ela, disse: NÃO... eu não quero pular uma série, porque tem um monte coisas que eu ainda não aprendi... Dá pra entender?
Hoje ela, não queria ir pra escola. Outro dia passou mal dentro da van, a caminho da escola e chegou lá chorando. Pelo telefone, liguei para falar com a pedagoga, e ela me disse: É, mãe, filha já chegou aqui DE BOCA ABERTA!... De boca aberta?? que maneira de falar é essa? Ela chegou passando mal... há dois meses que ela ia  a escola e via as crianças se xingando, brigando, quebrando e ameaçando... e ela é que tem problema? que chega de boca aberta? Que sente o ambiente ostil... que algo não está certo...
Professor entra na sala pra dar uma bronca na turma, e diz: Beatriz, tape os ouvidos que vou dar uma bronca na turma!... Então, alguma criança dessa sala vai gostar dela? vai aceitá-la?
Ela vai pra escola e eu fico com o coração na mão... Crianças podem ser cruéis... e eu não quero ver minha filha, ou a filha de qualquer outra pessoa, passando por dificuldades na escola, se fala tanto em bulling, mas o que leva as crianças a cometê-los? Quem provoca? O que provoca? O que levou aquelas meninas envenenarem os biscoitos para dar às colegas? Hoje a noite terá uma reunião na escola da Bea e imagino que assunto seja o comportamento dos alunos... tenho um certo medo... porque tenho a impressão, que assim como a Bea, nós também não sejamos vistos como pais normais, diante do padrão que escola espera... e se for assim... nem quero ser...
É só um desabafo de como me sinto... E acredito que haja muitas mães e pais se sentindo assim também...

um abraço

10 comentários:

  1. Percebo-te tão bem!
    O mundo é desajustado para quem é bem formado.
    Toma um beijo grande

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  2. Nossa, sei bem do que vc fala. Trabalho com crianças e meu marido também é professor... Bons tempos aqueles em que as crianças eram educadas pelos pais....

    Uma pena, por isso o mundo tá como está. Sua filha pode até ser a diferente, mas saiba que vc está certíssima em educá-la assim. Digo isso todos os dias, quando tiver meus filhos vou educá-los como fui educada... Tem coisa pior que criança mal educada? ODEIO!

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  3. Oi Josi, me solidarizo a você, por que também não sou uma mãe normal e não crio um filho normal. E tenho a sensação de não viver normalmente em uma sociedade que buzina atrás de você por que respeitou um cruzamento, que debocha de quem age certo, respeita regras, que entende que o certo é tirar vantagem. Andar na contra-mão não é fácil mesmo. Eu nem sei o que te dizer, por que imagino como está se sentindo. O Bê é uma criança que adora fazer amigos e que puxa papo com todos com quem cruza. Sabe o que precisei ensinar a ele? Que nem todo mundo gosta de fazer amigos, que ele não pode falar com as pessoas na rua, assim, por que elas podem ficar incomodadas... Me senti tão imbecil explicando isso para ele. Errado é ele? Errada é a Bea? Às vezes sinto medo de encarar este mundo, viu!
    Beijos.

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  4. mfc, Andréia e Tati...
    obrigada pelo carinho, já não me sinto tão sozinha, sabendo que vcs estão aí... Tanto eu como meu marido estamos procurando uma saída, mas queria saber qual a saída para o mundo, se as pessoas não mudarem...

    um beijinho e abraço bem apretado

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  5. Minha filhota tem 3 anos e meio e já me preocupo muito com essas coisas também, ela já quebrou o braço na creche por causa de um empurrão acidental que um colega deu nela, mas eu fiquei fula, pois não ensinam mais bom comportamento, na minha época eu era repreendida se ficasse correndo nos corredores do colégio. Mas uma coisa que vejo pior do que os professores não ensinarem, são os pais que deveriam ensinar e não ensinam, a gente educa nossos filhos mas hoje a maioria dos pais não tá nem aí, deixam na mão da escola, e assim se criam os diabinhos.... Minha sogra largou o magistério pois não aguentou mais, a gota d'água foi chamar a atenção de um aluno que estava colando e mandá-lo pra direção, como se deve, e os pais foram na escola tirar satisfação dela e disseram horrores... podÊ?!!!!!!! Acho um abuso. O pai do menino que quebrou o braço da minha filha, ainda que acidentalmente, disse que não era nada, que devia ser frescura de mãe, me deu uma raiva que só vendo, estpa aqui a radiografia pra mostrar a quem quiser, quebrou os dois ossinhos na altura do punho, e o desgraçado é fisioterapeuta! Muitos pais deveriam voltar pra escola!!!!

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  6. Desejo que encontrem a melhor solução. Sabe que apesar de já ter quase dois anos que a nossa caçula voltou para o Brasil, a escola ainda não se adaptou a ela?! Uma turma com 14 alunos, escola tradicional, pequena e sempre há algum problema. Engraçado é que na Zâmbia eram 1500 alunos, ela era uma das únicas alunas estrangeiras e branca e todos se adaptaram a ela e vice e versa. Estamos realmente na contra mão. Beijocas! Cuidem-se! Beijinhos especiais para a Bea.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Thays e Taia!
    obrigada pelo carinho, pela solidariedade e pela torcida...
    beijinhos

    a Reunião foi mais uma palhaçada... depois eu conto...
    beijinhos, beijinhos

    Josi

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  9. Josi,
    Não sei se você sabia, mas sou fono e até pouco tempo atrás trabalhava com inclusão de crianças com síndrome de Down em escolas regulares. Uma batalha. Mas ao menos aberta. No teu caso, é uma batalha quase ética, ver que uma criança que tem valores pode ser considerada inadequada... É de valores que nossos filhos precisam. Mantenha-se na batalha, lá na frente a tua Beatriz vai sair ganhando.
    BJô

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  10. Oi Jô, obrigada pela força. Estamos na batalha mesmo, uma para entender como funciona esse sistema, outra para nos manter firmes no rumo. Não vemos outra saída a não se de que ela continue nesta escola até o fim do ano, o que é uma pena, mas não encontramos até agora uma vaga em outra escola... paciência, vamos administrando isso, conversando muito...
    Um grande abraço

    Josi Stanger

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